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Imprensa

Jornal : Mannheimer Morgen

Data: 12 de janeiro de 2014
 
Magia no Teclado vinda do Brasil
A Semana do Piano de Heidelberg sempre oferece boas surpresas. Ali são também ressuscitados compositores há muito esquecidos. Foi o que ocorreu com a brasileira Olinda Alessandrini, que se apresentou no DAI. 
 
Por: Eckard Britsch
 
Certamente a visão da pianista brasileira O.A. se dirige principalmente para as composições de seus conterrâneos. Mesmo assim, ela explorou com profundidade a literatura virtuosística européia da passagem do século em 1900. Encontrou e apresentou no DAI um desafio de Adolf Schultz-Evler (1852-1905), os “Arabescos sobre o Danúbio Azul”, a única obra do pianista polonês que lhe sobreviveu. Nesta peça, Schultz-Evler utilizou todos os recursos mágicos do seu repertório pianístico. Olinda Alessandrini demonstrou a sensibilidade virtuosística desta paráfrase, bem como extraiu a magia poética que já foi escutada em recitais de colegas famosos como Sherkassky ou Bolet.
A artista comunicou uma alegria bem perceptível em sua apresentação. Quem, ao final de um programa “tour de force”, desenvolve ainda a 1ª. Valsa Mefisto, de Franz Liszt, de um modo “fantástico”, realmente tem muito a dizer. Nesta peça ela encontrou a atitude metafísica dos pensamentos da Valsa, orientando-se pela proposta literária de Nikolaus Lenau, onde Fausto, um perturbado sedutor, se deixa conduzir por um poderoso Mefisto. Com vigor e precisão a artista desenvolveu a peça, entrevendo caminhos secretos, onde  certamente, sons perolados transparecem com freqüência. A interpretação pianística conseguiu expressar os pensamentos básicos da intenção literária.
Heitor Villa-Lobos foi e é o escudo simbólico do Brasil em assuntos musicais. Suas transformações artísticas das raízes folclóricas e o seu estilo exuberante e expositivo aparecem bem nas mãos talentosas de O.A. Na seqüência das “Cirandas”, O.A. mostrou um Cosmos composicional amplo. Um “perpetuum mobile” se alterna com peças vivazes, uma refinada canção de ninar surge para constituir um desfile impressionista. E acima de todas as Cirandas pousa a aura da identidade sul-americana.
Também peças menos conhecidas O.A. apresentou em seu programa, como o “Prelúdio e Fuga” de Edino Krieger. O Prelúdio lembra gotas de chuva e a fuga oscila entre um tango metafórico e uma poesia orquestral. A atraente 2ª. Suíte Brasileira de Lorenzo Fernandez, curta e entrecortada, encerrou o programa da simpática pianista.